É possível continuar caminhando, subindo escadas e até correr com o avanço da idade? Descubra aqui.

Desde os primeiros passos, o corpo humano é movido por uma complexa engrenagem de músculos, articulações, tendões e ossos. Aprendemos a engatinhar, andar, correr e, com o tempo, incorporamos o movimento ao cotidiano de forma tão natural que esquecemos o quão preciosa é essa habilidade. Porém, com o avanço da idade, muitos começam a perceber limitações — mas será mesmo que elas são inevitáveis?
Para entender isso, é importante compreender que o desenvolvimento motor ocorre ainda nos primeiros anos de vida, mas o auge da força e da mobilidade costuma ser atingido por volta dos 30 anos.
A partir daí, começa um declínio fisiológico natural, com redução da massa muscular (sarcopenia), menor elasticidade dos tendões, e enfraquecimento ósseo. No entanto, esse processo pode ser lento — e até minimizado — com cuidados e estímulos corretos.
Fatores que influenciam a perda de mobilidade
De acordo com um estudo da Harvard Medical School (2021), fatores como sedentarismo, má alimentação, doenças crônicas e até o estado emocional contribuem para a perda de mobilidade. A genética também tem papel relevante, mas não é destino: um ambiente saudável e hábitos ativos podem modificar até predisposições hereditárias.
A psicóloga geriátrica Dra. Mariana Vasques afirma: “Muitos idosos deixam de se mover não por incapacidade física, mas por medo ou desmotivação. A mente também precisa de estímulo para o corpo se movimentar.”

Doenças e Mobilidade
Entre as condições que mais afetam a mobilidade estão a osteoartrite, a artrose, o Parkinson e doenças neuromusculares. Todas elas, embora limitantes, podem ter sua progressão amenizada com exercícios regulares e bem orientados.
Segundo a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), a prática de exercícios resistidos, hidroginástica, caminhadas e pilates pode ajudar tanto na dor quanto na funcionalidade de pessoas com doenças osteoarticulares.
Em um estudo publicado na Journal of Aging and Physical Activity (2019), um grupo de idosos com artrite que praticaram tai chi por 12 semanas apresentou melhora significativa na mobilidade e redução de dores.

Um caso notável é o de Dona Mirtes Knecht, 83 anos, de Encantado. Após uma cirurgia de prótese no quadril, encontrou na fisioterapia com dança de salão a forma ideal de se manter ativa, e a prática da musculação como rotina. “No começo, achei que nunca mais ia subir uma escada. Hoje danço duas vezes por semana, treino musculação 3 e ando no parque com minhas netas. Não podia estar mais feliz”, conta ela, que faz questão de caminhar até a sua academia que fica cerca de 2Km de distância de sua casa.
Corpo Humano, Vida Inteligente
O corpo humano é incrivelmente adaptável. Ele é moldado pelo uso. Se você movimenta, ele preserva. Se abandona, ele atrofia. Essa inteligência biológica é o que permite que até idosos com histórico sedentário possam ganhar mobilidade e força com exercícios bem conduzidos.
Dra. Kellyane Pires, biomédica especializada em anamnese muscular, reforça: “O corpo responde a estímulos até o fim da vida. Não existe uma idade para parar de se exercitar. Existe, sim, a necessidade de adaptar os exercícios ao momento físico e emocional da pessoa.”

A própria Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda atividades físicas para pessoas acima dos 65 anos, desde que adaptadas e com supervisão. Não há idade em que o exercício se torne inútil — ao contrário, ele se torna ainda mais necessário.
A americana Ernestine Shepherd, conhecida como a fisiculturista mais velha do mundo (Guinness World Records), iniciou seus treinos aos 56 anos. Aos 80, seguia ativa, orientando grupos de mulheres e inspirando gerações. “Idade é só número. Movimento é liberdade”, dizia em suas palestras.
O corpo é um presente. Ele nos leva, nos sustenta, nos permite abraçar, dançar, caminhar. E mesmo quando ele começa a desacelerar, ainda está disposto a seguir com a gente — se for cuidado com carinho.
Manter a mobilidade é manter a autonomia. É garantir que, até o fim, possamos caminhar ao lado de quem amamos, de mãos dadas. Possamos abraçar com força, dançar com leveza, e viver com plenitude. Nunca é tarde para se mover. Nunca é cedo demais para começar.


