A ansiedade não avisa quando vai chegar. Ela simplesmente se instala, devagar, como uma sombra que vai crescendo até ocupar todo o espaço. Para muitas pessoas, o esgotamento mental começa de forma sutil: uma noite mal dormida aqui, uma irritação excessiva ali, a sensação de que nada está bom o suficiente. Até que, de repente, o corpo e a mente gritam: “Não aguento mais”.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país mais ansioso do mundo, com 9,3% da população convivendo com transtornos de ansiedade. E os números só aumentaram após a pandemia. Mas o que muita gente não percebe é que o esgotamento mental não é apenas “coisa da cabeça” — ele tem sintomas físicos, emocionais e comportamentais que precisam ser reconhecidos e tratados.
Os sinais que o corpo dá
Cláudia Hoffmann, 45 anos, contadora em Lajeado, passou meses ignorando os sinais. “Eu achava que era só cansaço do trabalho. Mas comecei a ter dores de cabeça constantes, insônia, aperto no peito. Fui ao cardiologista, fiz todos os exames… estava tudo normal. Foi aí que meu médico sugeriu que eu procurasse um psicólogo”, conta.
O diagnóstico foi claro: síndrome de burnout, o esgotamento profissional crônico. Cláudia estava trabalhando 12 horas por dia, sem pausas, sem lazer, sem descanso real. “Eu achava que estava sendo produtiva. Na verdade, estava me destruindo.”
O esgotamento mental se manifesta de várias formas:
Sintomas físicos: dores de cabeça frequentes, tensão muscular, problemas gastrointestinais, alterações no apetite, insônia ou sono excessivo, fadiga constante.
Sintomas emocionais: irritabilidade, ansiedade, tristeza profunda, sensação de vazio, desesperança, crises de choro sem motivo aparente.
Sintomas comportamentais: isolamento social, procrastinação, dificuldade de concentração, esquecimentos frequentes, perda de interesse em atividades que antes davam prazer.
Histórias de superação
Em Teutônia, o professor de educação física Marcos Becker, 38 anos, também enfrentou uma crise de ansiedade severa. “Eu sempre fui o cara animado, cheio de energia. De repente, comecei a ter ataques de pânico do nada. No meio de uma aula, meu coração disparava, eu suava frio, achava que ia morrer”, relembra.
Marcos procurou ajuda psicológica e psiquiátrica. Começou terapia cognitivo-comportamental e, por um período, fez uso de medicação. “Não foi fácil aceitar que eu precisava de ajuda. Mas foi a melhor decisão que tomei. Hoje eu sei identificar os gatilhos, sei quando preciso desacelerar.”
Já em Arroio do Meio, a empresária Luciana Müller, 52 anos, encontrou na meditação e no yoga ferramentas poderosas para lidar com o estresse. “Eu era extremamente ansiosa, sempre preocupada com o futuro, com o que poderia dar errado. A meditação me ensinou a viver o presente, a aceitar que nem tudo está sob meu controle.”
O que a ciência diz
Estudos recentes mostram que o estresse crônico e a ansiedade não tratados podem levar a problemas graves de saúde, incluindo hipertensão, doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, depressão e comprometimento do sistema imunológico.
Por outro lado, práticas de autocuidado mental — como terapia, meditação, atividade física regular, sono adequado e conexões sociais saudáveis — demonstram resultados significativos na redução dos sintomas e na melhora da qualidade de vida.
Um estudo publicado no Journal of Clinical Psychology em 2023 mostrou que apenas 8 semanas de prática regular de mindfulness (atenção plena) reduziram em 40% os níveis de ansiedade em participantes diagnosticados com transtornos de ansiedade generalizada.
Estratégias práticas para cuidar da mente
Estabeleça limites. Aprenda a dizer não. Você não precisa estar disponível 24 horas por dia para todo mundo. Defina horários para trabalho, lazer e descanso — e respeite-os.
Pratique a desconexão digital. Reserve pelo menos 1 hora por dia longe das telas. Desligue as notificações, evite rolar feeds infinitos antes de dormir. Seu cérebro precisa de pausas.
Cultive relações verdadeiras. Invista tempo em pessoas que te fazem bem. Conversas profundas, risadas genuínas e abraços apertados são remédios poderosos para a alma.
Movimente o corpo. Exercícios físicos liberam endorfinas e reduzem o cortisol, o hormônio do estresse. Não precisa ser nada intenso — uma caminhada de 30 minutos já faz diferença.
Durma bem. O sono é fundamental para a saúde mental. Crie uma rotina de sono: vá para a cama e acorde sempre no mesmo horário, evite cafeína à noite, deixe o quarto escuro e silencioso.
Procure ajuda profissional. Terapia não é luxo, é necessidade. Um psicólogo pode te ajudar a entender seus padrões de pensamento, identificar gatilhos e desenvolver estratégias saudáveis de enfrentamento.
Pratique a gratidão. Todos os dias, antes de dormir, anote três coisas pelas quais você é grato. Parece simples, mas essa prática realmente muda a forma como você enxerga a vida.
A importância de pedir ajuda
Um dos maiores obstáculos no cuidado com a saúde mental é o estigma. Muitas pessoas ainda acreditam que procurar ajuda é sinal de fraqueza, que “todo mundo tem problemas” e que é preciso “ser forte” e resolver tudo sozinho.
Mas a verdade é o oposto: reconhecer que você precisa de ajuda e buscá-la é um ato de coragem e autocuidado. Ninguém precisa (e ninguém deveria) carregar o peso do mundo sozinho.
“Quando eu finalmente procurei terapia, foi como tirar uma mochila de 50 quilos das costas”, diz Cláudia. “Eu não sabia o quanto estava pesado até sentir o alívio.”
Saúde mental é saúde
Cuidar da mente não é menos importante do que cuidar do corpo. Na verdade, ambos estão profundamente conectados. Uma mente saudável contribui para um corpo saudável, e vice-versa.
Se você está se sentindo esgotado, ansioso, triste ou desesperançado, saiba que não está sozinho. E que existe ajuda disponível. Você merece viver com leveza, com paz, com alegria. E isso é possível.
O primeiro passo é reconhecer que algo não está bem. O segundo é buscar apoio. E o terceiro é ser gentil consigo mesmo no processo. A cura não é linear, mas cada pequeno passo conta.
Fontes:
– Organização Mundial da Saúde (OMS) – Relatório sobre Saúde Mental no Mundo (2022)
– Journal of Clinical Psychology – Efeitos da Meditação Mindfulness na Ansiedade (2023)
– Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP)
– Centro de Valorização da Vida (CVV) – 188 (apoio emocional gratuito)

